De acordo com o tema abordado sobre as Práticas de leitura e Escrita,
encontrei este texto de Magda Soares, muito interessante, que vem nos auxiliar em nossa reflexão sobre o que é letramento.
NOVAS PRÁTICAS DE LEITURA E ESCRITA:
LETRAMENTO NA CIBERCULTURA
MAGDA SOARES*
Conceitos de letramento
O plural, nesse
subtítulo – conceitos –, explica-se pela imprecisão que, na literatura
educacional brasileira, ainda marca a definição de letramento, imprecisão
compreensível se considera que o termo foi recentemente introduzido nas áreas
das letras e da educação.2 Entretanto, não há, propriamente, uma diversidade de
conceitos, mas diversidade de ênfases na caracterização do fenômeno.
Há autores que
consideram que letramento são as práticas de leitura e escrita: segundo
Kleiman (1995, p. 19): “Podemos definir hoje o letramento como um conjunto de
práticas sociais que usam a escrita, enquanto sistema simbólico e enquanto
tecnologia, em contextos específicos, para objetivos específicos”. Em
texto posterior, a autora declara entender letramento “como as práticas e
eventos relacionados com uso, função e impacto social da escrita” (idem,
1998, p. 181). Nessa concepção, letramento são as práticas sociais de leitura e
escrita e os eventos em que essas práticas são postas em ação, bem como as consequências
delas sobre a sociedade. Já Tfouni (1988, p. 16), em obra que foi uma das
primeiras a não só utilizar, mas também a definir o termo letramento,
conceitua-o em confronto com alfabetização, conceito que reafirma em obra posterior:
“Enquanto a alfabetização ocupa-se da aquisição da escrita por um indivíduo, ou
grupo de indivíduos, o letramento focaliza os aspectos sócio-históricos da
aquisição de um sistema escrito por uma sociedade” (idem, 1995, p. 20). A
autora reafirma essa diferença entre alfabetização e letramento insistindo no
caráter individual daquela e social deste: A alfabetização refere-se à
aquisição da escrita enquanto aprendizagem de habilidades para leitura, escrita
e as chamadas práticas de linguagem. Isso é levado a efeito, em geral, por meio
do processo de escolarização e, portanto, da instrução formal. A alfabetização
pertence, assim, ao âmbito do individual.
O
letramento, por sua vez, focaliza os aspectos sócio-históricos da aquisição da
escrita. Entre outros casos, procura estudar e descrever o que ocorre nas
sociedades quando adotam um sistema de escritura de maneira restrita ou
generalizada; procura ainda saber quais práticas psicossociais substituem as
práticas “letradas” em sociedades ágrafas. (Idem, 1988, p. 9, e 1995, p. 9-10).
Assim, para Tfouni,
letramento são as consequências sociais e históricas da introdução da escrita
em uma sociedade, “as mudanças sociais e discursivas que ocorrem em uma
sociedade quando ela se torna letrada” (1995, p. 20). Conclui-se que Tfouni
toma, para conceituar letramento, o impacto social da escrita, que, para
Kleiman, é apenas um dos componentes desse fenômeno; Kleiman acrescenta a esse
outros componentes: também as próprias práticas sociais de leitura e escrita e
os eventos em que elas ocorrem compõem o conceito de letramento. Em ambas as
autoras, porém, o núcleo do conceito de letramento são as práticas sociais de
leitura e de escrita, para além da aquisição do sistema de escrita, ou seja,
para além da alfabetização.
Embora mantendo esse
foco nas práticas sociais de leitura e de escrita, este texto fundamenta-se
numa concepção de letramento como sendo não as próprias práticas de
leitura e escrita, e/ou os eventos
relacionados com o
uso e função dessas práticas, ou ainda o impacto ou as consequências da
escrita sobre a sociedade, mas, para além de tudo isso, o estado ou condição
de quem exerce as práticas sociais de leitura e de escrita, de quem
participa de eventos em que a escrita é parte integrante da interação entre
pessoas e do processo de interpretação dessa interação – os eventos de
letramento, tal como definidos por Heath (1982, p. 93): “A literacy event
is any occasion in which a piece of writing is integral to the nature of
participant’s interactions and their interpretive processes.” (Um evento de letramento
é qualquer situação em que um portador qualquer de escrita é parte integrante
da natureza das interações entre os participantes e de seus processos de
interpretação.) Ou seja: coerentemente com o conceito apresentado em Soares
(1998b), letramento é, na argumentação desenvolvida neste texto, o estado ou
condição de indivíduos ou de grupos sociais de sociedades letradas que
exercem efetivamente as práticas sociais de leitura e de escrita, participam
competentemente de eventos de letramento. O que esta concepção acrescenta às
anteriormente citadas é o pressuposto de que indivíduos ou grupos sociais que
dominam o uso da leitura e da escrita e, portanto, têm as habilidades e
atitudes necessárias para uma participação ativa e competente em situações em
que práticas de leitura e/ou de escrita têm uma função essencial, mantêm com os
outros e com o mundo que os cerca formas de interação, atitudes, competências
discursivas e cognitivas que lhes conferem um determinado e diferenciado estado
ou condição de inserção em uma sociedade letrada.
Letramento é, nesta
concepção, o contrário de analfabetismo (razão pela qual a palavra alfabetismo
tem sido frequentemente usada em lugar de letramento, e seria mesmo
mais vernácula que esta última).
Se analfabetismo é,
como habitualmente definido nos dicionários, o estado de analfabeto (cf.
Michaelis, Moderno dicionário da língua portuguesa), o estado ou
condição de analfabeto (cf. Novo Aurélio Século XXI e Dicionário
Houaiss da língua portuguesa), o contrário de analfabetismo –
alfabetismo ou letramento – é o estado ou condição de quem não é analfabeto.
Aliás, na própria formação da palavra letramento está presente a ideia
de estado: a palavra traz o sufixo -mento, que forma substantivos
de verbos, acrescentando a estes o sentido de “estado resultante de uma ação”,
como ocorre, por exemplo, em acolhimento, ferimento, sofrimento, rompimento,
lançamento; assim, de um verbo letrar (ainda não dicionarizado, mas
necessário para designar a ação educativa de desenvolver o uso de práticas
sociais de leitura e de escrita, para além do apenas ensinar a ler e a
escrever, do alfabetizar), forma-se a palavra letramento: estado
resultante da ação de letrar.
No quadro desse
conceito de letramento, o momento atual oferece uma oportunidade extremamente
favorável para refiná-lo e torná-lo mais claro e preciso. É que estamos
vivendo, hoje, a introdução, na sociedade, de novas e incipientes modalidades
de práticas sociais de leitura e de escrita, propiciadas pelas recentes tecnologias
de comunicação eletrônica – o computador, a rede (a web), a Internet. É,
assim, um momento privilegiado para, na ocasião mesma em que essas novas
práticas de leitura e de escrita estão sendo introduzidas, captar o estado
ou condição que estão instituindo: um momento privilegiado para identificar
se as práticas de leitura e de escrita digitais, o letramento na cibercultura,
conduzem a um estado ou condição diferente daquele a que conduzem as práticas
de leitura e de escrita quirográficas e tipográficas,4 o letramento na cultura
do papel. Uma compreensão mais clara deste último pode advir de seu confronto e
contraste com o primeiro, replicando, em sentido inverso, Ong (1986), quando
busca compreender o letramento pela via de seu confronto e contraste com a
cultura oral.
Da oralidade à escrita
Ong (1986) enfatiza a
dificuldade que temos, as mentes letradas, de entender a oralidade primária,5 porque
a tecnologia da escrita está tão profundamente internalizada em nós que nos
tornamos incapazes de separá-la de nós mesmos, e assim não conseguimos perceber
sua presença e influência – não temos consciência da natureza do fenômeno do
letramento, temos dificuldade de captar as características do estado ou
condição de ser “letrado”, porque vivemos imersos nele. Para vencer essa
dificuldade, Ong procura compreender o letramento na cultura do papel pela
identificação das diferenças entre sociedades ágrafas e sociedades letradas,
confrontando o mundo da oralidade primária com o mundo letrado.
Também os estudos
sobre poemas épicos orais, feitos por Milman Parry e Albert Lord, tomando como
objeto de análise Homero e os poetas épicos da antiga Iugoslávia, relatados em
Lord (1960), e ainda os estudos de Havelock (1963, 1982, 1986) sobre a
introdução da escrita na Grécia antiga, evidenciam, sempre tendo como termo de referência
o texto escrito, as características dos textos orais, memorizados e recitados,
características determinadas por sua forma de recepção, por seu gênero, por sua
função (preservação da memória), por seus destinatários. Por outro lado, Goody
(1977, 1987) analisa, fundamentando- se em pesquisas históricas e
antropológicas, as diferenças de “mentalidade” entre povos de culturas ágrafas
e povos de culturas letradas. Esses autores evidenciam como a introdução e
prática da escrita trouxeram significativas mudanças na recepção do texto, nos gêneros
e funções do texto, nos processos cognitivos e discursivos, enfim, no estado ou
condição dos destinatários dos textos.
Para Ong, Parry,
Lord, Havelock e Goody, o confronto e contraposição entre culturas letradas e
culturas de oralidade primária permitiram uma compreensão mais ampla não só
destas, mas também daquelas; da mesma forma, podemos buscar uma compreensão
mais ampla da natureza do letramento na cultura do papel pela análise do
processo em andamento, na cibercultura, de desenvolvimento de novas práticas
digitais de leitura e de escrita, em confronto e contraposição com as já
tradicionais práticas sociais quirográficas e tipográficas de leitura e de escrita.
Ou seja: recuperar o significado de um letramento já ocorrido e já
internalizado, flagrando um novo letramento que está ocorrendo e apenas começa a
ser internalizado.
Tecnologias de escrita e letramento
Considerando que
letramento designa o estado ou condição em que vivem e interagem indivíduos ou
grupos sociais letrados, pode-se supor que as tecnologias de escrita,
instrumentos das práticas sociais de leitura e de escrita, desempenham um papel
de organização e reorganização desse estado ou condição. Lévy (1993) inclui as tecnologias
de escrita entre as tecnologias intelectuais, responsáveis por gerar
estilos de pensamento diferentes (observe-se o subtítulo de seu livro As
tecnologias da inteligência: “o futuro do pensamento na era da informática”);
esse autor insiste, porém, que as tecnologias intelectuais não determinam,
mas condicionam processos cognitivos e discursivos. Esse condicionamento
tem sido estudado, ora defendido ora contestado, por muitos, em relação aos
efeitos sobre culturas orais ou sobre indivíduos não letrados, da introdução e
prática da tecnologia de escrita quirográfica e tipográfica (basta citar aqui a
admirável revisão e argumentação em torno desse tema feita por Olson, 1994). O
mesmo começa a ocorrer em relação aos efeitos da introdução e prática da tecnologia
de escrita digital sobre culturas de letramento tipográfico; entre os autores
que vêm desenvolvendo essa reflexão, destacam-se Lévy (1993, 1999) e Chartier
(1994, 1998, 2001).
Neste texto, não se
pretende discutir propriamente esses efeitos, mas identificar as principais
diferenças entre as tecnologias tipográficas e as tecnologias digitais de
leitura e escrita, para delas tentar inferir as mudanças que provavelmente
estão ocorrendo, ou virão a ocorrer, na natureza do letramento – do estado ou
condição de “letrado”, e assim compreender melhor o próprio conceito de
letramento.
Tecnologias tipográficas e digitais de leitura e de
escrita
As diferenças entre
tecnologias tipográficas e digitais de leitura e de escrita serão consideradas,
neste texto, restringindo-se a análise ao uso de ambas essas tecnologias para a
escrita de textos informativos ou literários; não se incluirá na análise o uso
delas para a interação a distância. Assim, discute-se aqui, para confrontá-lo
com o texto no papel, o texto na tela – o hipertexto; embora se reconheça que a
análise da interação on-line (os chats, o e-mail, as
listas de discussão, os fóruns, entre outros) seria elucidativa para melhor
compreensão do conceito de letramento, confrontando-se essas modalidades de
interação entre as pessoas com as modalidades de interação face-a-face ou por
meio da escrita no papel, renuncia-se a incluí-la neste texto, porque esse uso
da tecnologia digital suscita questões específicas de natureza diversa, sobretudo
linguística, cuja discussão ultrapassaria os limites e objetivos deste artigo.
Para a análise das
tecnologias tipográficas e digitais de leitura e escrita de textos e
hipertextos, são aqui considerados os dois elementos mais relevantes de
diferenciação entre elas: o espaço de escrita e os mecanismos de
produção, reprodução e difusão da escrita.
Os espaços de escrita
Espaço de escrita, na definição de
Bolter (1991), é “o campo físico e visual definido por uma determinada
tecnologia de escrita”. Todas as formas de escrita são espaciais, todas exigem
um “lugar” em que a escrita se inscreva/escreva, mas a cada tecnologia
corresponde um espaço de escrita diferente. Nos primórdios da história
da escrita, o espaço de escrita foi a superfície de uma tabuinha de argila ou
madeira ou a superfície polida de uma pedra; mais tarde, foi a superfície
interna contínua de um rolo de papiro ou de pergaminho, que o escriba dividia em
colunas; finalmente, com a descoberta do códice, foi, e é, a superfície bem
delimitada da página – inicialmente de papiro, de pergaminho, finalmente a
superfície branca da página de papel. Atualmente, com a escrita digital, surge
este novo espaço de escrita: a tela do computador.
Há estreita relação
entre o espaço físico e visual da escrita e as práticas de escrita e de
leitura. O espaço da escrita relaciona-se até mesmo com o sistema de escrita: a
escrita em argila úmida, que recebia bem a marca da extremidade em cunha do
cálamo, levou ao sistema cuneiforme de escrita; a pedra como superfície a ser
escavada serviu bem, num primeiro momento, aos hieróglifos dos egípcios, mas, quando
estes passaram a usar o papiro, sua escrita, condicionada por esse novo espaço,
foi-se tornando progressivamente mais cursiva e perdendo as tradicionais e
estilizadas imagens hieroglíficas, exigidas pela superfície da pedra. O espaço
de escrita relaciona-se também com os gêneros e usos de escrita, condicionando
as práticas de leitura e de escrita: na argila e na pedra não era possível
escrever longos textos, narrativas; não podendo ser facilmente transportada, a
pedra só permitia a escrita pública em monumentos; a página, propiciando o
códice, tornou possível a escrita de variados gêneros, de longos textos.
O espaço de escrita
condiciona, sobretudo, as relações entre escritor e leitor, entre escritor e
texto, entre leitor e texto. A extensa e contínua superfície do espaço de
escrita no rolo de papiro ou pergaminho impunha uma escrita e uma leitura sem
retornos ou retomadas. Já o texto nas páginas do códice tem limites claramente definidos,
tanto a escrita quanto a leitura podem ser controladas por autor e leitor,
permitindo releituras, retomadas, avanços, fácil localização de trechos ou
partes; além disso, o códice torna evidente, materializando-a, a delimitação do
texto, seu começo, sua progressão, seu
fim, e cria a possibilidade de protocolos de leitura como a divisão do texto em
partes, em capítulos, a apresentação de índice, sumário.
No computador, o
espaço de escrita é a tela, ou a “janela”; ao contrário do que ocorre quando o
espaço da escrita são as páginas do códice, quem escreve ou quem lê a escrita
eletrônica tem acesso, em cada momento, apenas ao que é exposto no espaço da
tela: o que está escrito antes ou depois fica oculto (embora haja a
possibilidade de ver mais de uma tela ao mesmo tempo, exibindo uma janela ao
lado de outra, mas sempre em número limitado).
O que é mais
importante, porém, é que a escrita na tela possibilita a criação de um texto
fundamentalmente diferente do texto no papel7 – o chamado hipertexto que
é, segundo Lévy (1999, p. 56), “um texto móvel, caleidoscópico, que apresenta
suas facetas, gira, dobra-se e desdobra-se à vontade frente ao leitor”. O texto
no papel é escrito e é lido linearmente, seqüencialmente – da esquerda para a
direita, de cima para baixo, uma página após a outra; o texto na tela – o
hipertexto – é escrito e é lido de forma multilinear, multi-sequencial,
acionando-se links ou nós que vão trazendo telas numa multiplicidade de
possibilidades, sem que haja uma ordem predefinida. A dimensão do texto no
papel é materialmente definida: identifica-se claramente seu começo e seu fim, as
páginas são numeradas, o que lhes atribui uma determinada posição numa ordem
consecutiva – a página é uma unidade estrutural; o hipertexto, ao contrário,
tem a dimensão que o leitor lhe der: seu começo é ali onde o leitor escolhe,
com um clique, a primeira tela, termina quando o leitor fecha, com um clique,
uma tela, ao dar-se por satisfeito ou considerar-se suficientemente informado –
enquanto a página é uma unidade estrutural, a tela é uma unidade temporal. Lévy
(1993, p. 40- 41), em tópico que denomina significativamente e, esperemos,
também exageradamente de Réquiem para uma página, compara a leitura do
texto na página com a leitura do hipertexto:
“Quando
um leitor se desloca na rede de microtextos e imagens de uma enciclopédia, deve
traçar fisicamente seu caminho nela, manipulando volumes, virando páginas,
percorrendo com seus olhos as colunas tendo em mente a ordem alfabética. [...]
O hipertexto é dinâmico, está perpetuamente em movimento.
Com um
ou dois cliques, obedecendo por assim dizer ao dedo e ao olho, ele mostra ao
leitor uma de suas faces, depois outra, um certo detalhe ampliado, uma
estrutura complexa esquematizada. Ele se redobra e desdobra à vontade, muda de
forma, se multiplica, se corta e se cola outra vez de outra forma. Não é apenas
uma rede de microtextos, mas sim um grande metatexto de geometria variável, com
gavetas, com dobras. Um parágrafo pode aparecer ou desaparecer sob uma palavra,
três capítulos sob uma palavra ou parágrafo, um pequeno ensaio sob uma das
palavras destes capítulos, e assim virtualmente sem fim, de fundo falso em
fundo falso. [...] Ao ritmo regular da página se sucede o movimento perpétuo de
dobramento e desdobramento de um texto caleidoscópico.”
Em síntese, a tela,
como novo espaço de escrita, traz significativas mudanças nas formas de
interação entre escritor e leitor, entre escritor e texto, entre leitor e texto
e até mesmo, mais amplamente, entre o ser humano e o conhecimento. Embora os
estudos e pesquisas sobre os processos cognitivos envolvidos na escrita e na
leitura de hipertextos sejam ainda poucos (ver, por exemplo, além das já
citadas obras de Lévy, também Rouet, Levonen, Dillon e Spiro, 1996), a hipótese
é de que essas mudanças tenham conseqüências sociais, cognitivas e discursivas,
e estejam, assim, configurando um letramento digital, isto é, um certo estado
ou condição que adquirem os que se apropriam da nova tecnologia
digital e exercem práticas de leitura e de escrita na tela, diferente do estado
ou condição – do letramento – dos que exercem práticas de leitura e
de escrita no papel. Para alguns autores, os processos cognitivos inerentes a
esse letramento digital reaproximam o ser humano de seus esquemas mentais;
Ramal (2002, p. 84) afirma:
Estamos chegando à
forma de leitura e de escrita mais próxima do nosso próprio esquema mental:
assim como pensamos em hipertexto, sem limites para a imaginação a cada novo
sentido dado a uma palavra, também navegamos nas múltiplas vias que o novo
texto nos abre, não mais em páginas, mas em dimensões superpostas que se
interpenetram e que podemos compor e recompor a cada leitura.
Também Bolter (1991,
p. 21-22) afirma que a escrita no papel, com sua exigência de uma organização
hierárquica e disciplinada das ideias, contraria o fluxo natural do pensamento,
que se dá por associações, em rede – segundo esse autor, é o hipertexto
que veio legitimar o registro desse pensamento por associações, em rede, tornando-o
possível ao escritor e ao leitor.
Já Lévy (1999, p.
157) afirma que a cibercultura traz uma mutação da relação com o saber. Para
este autor, “o ciberespaço suporta tecnologias intelectuais que amplificam,
exteriorizam e modificam numerosas funções cognitivas humanas”, como a memória,
que “se encontra tão objetivada em dispositivos automáticos, tão separada do corpo
dos indivíduos ou dos hábitos coletivos que nos perguntamos se a própria noção
de memória ainda é pertinente” (Lévy, 1993, p. 118); como a imaginação, que se
enriquece com as simulações; como a percepção, que se amplifica com os sensores
digitais, as realidades virtuais. Chartier (1994, p. 100-101) considera o texto
na tela uma revolução do espaço da escrita que altera fundamentalmente a
relação do leitor com o texto, as maneiras de ler, os processos cognitivos:
Se abrem
possibilidades novas e imensas, a representação eletrônica dos textos modifica
totalmente a sua condição: ela substitui a materialidade do livro pela
imaterialidade de textos sem lugar específico; às relações de contiguidade estabelecidas
no objeto impresso ela opõe a livre composição de fragmentos indefinidamente
manipuláveis; à captura imediata da totalidade da obra, tornada visível pelo
objeto que a contém, ela faz suceder a navegação de longo curso entre
arquipélagos textuais sem margens nem limites. Essas mutações comandam,
inevitavelmente, imperativamente, novas maneiras de ler, novas relações com a
escrita, novas técnicas intelectuais.
Pode-se concluir que
a tela como espaço de escrita e de leitura traz não apenas novas formas de
acesso à informação, mas também novos processos cognitivos, novas formas de
conhecimento, novas maneiras de
ler e de escrever,
enfim, um novo letramento, isto é, um novo estado ou condição para aqueles que
exercem práticas de escrita e de leitura na tela.
É deste novo
letramento que nos fala Bolter, um entusiasta das novas tecnologias, em seu já
clássico livro (1991):
The printed book [...] seems destined to move to the
margin of our literate
culture. […] the idea and the ideal of the book will
change: print will no
longer define the organization and presentation of
knowledge, as it has for the
past five centuries. This shift from print to the
computer does not mean the
end of literacy. What will be lost is not literacy
itself, but the literacy of print,
for electronic technology offers us a new kind of book
and new ways to write
and read. The shift to the computer will make writing
more flexible, but it
will also threaten the definitions of good writing and
careful reading that have
been fostered by the technique of printing. […] The
computer is restructuring
our current economy of writing. It is changing the
cultural status of writing as
well as the method of producing books. It is changing
the relationship of the
author to the text and of both author and text to the
reader. (p.
2-3)8
Os mecanismos de produção, reprodução e
difusão da escrita
Antes da invenção da
imprensa, a produção e reprodução manuscritas dos textos condicionavam sua
difusão, seu uso e, consequentemente, as práticas de escrita e de leitura: por
um lado, os livros manuscritos da Idade Média eram objetos de luxo, a que
poucos tinham acesso – Umberto Eco representa bem a relação do homem medieval com
os livros manuscritos, em O nome da rosa; por outro lado, os copistas frequentemente
alteravam o texto, ou por erro ou por intervenção consciente, de modo que
cópias do mesmo texto raramente eram idênticas; além disso, ao possuidor ou ao
leitor do manuscrito era garantida a possibilidade de intervir no texto,
acrescentando títulos, notas, observações pessoais, porque espaços em branco
eram deixados
para essa finalidade.
Embora a invenção da imprensa, e para isso alertou Chartier (1998, p. 7-9), não
tenha representado uma transformação tão radical como se costuma supor – “um
livro manuscrito (sobretudo nos seus últimos séculos, XIV e XV) e um livro
pós-Gutemberg baseiam-se nas mesmas estruturas fundamentais, as do códex”, a
verdadeira “revolução” tendo sido, na verdade, a descoberta deste, o códex – a
“revolução” de Gutemberg alterou profundamente as formas de produção, de reprodução
e de difusão da escrita, e, consequentemente, modificou significativamente as
práticas sociais e individuais de leitura e de escrita – modificou o
letramento, isto é, o estado ou condição de quem participa de eventos em que
tem papel fundamental a escrita.
A tecnologia da
impressão enformou a escrita, muito mais do que o tinham feito o rolo e
o códice, em algo estável, monumental e controlado: estável, porque o texto se
torna então reproduzível em cópias sempre idênticas; monumental porque o texto
impresso, muito mais que o manuscrito, sobrevive e persiste como um monumento a
seu autor e a seu tempo; controlado porque numerosas instâncias intervêm em sua
produção e a regulam.
Em primeiro lugar,
são as tecnologias de impressão e difusão da escrita que instauram a
propriedade sobre a obra, propriedade que se expressa concretamente no
surgimento da figura do autor, em geral difuso e não identificado
anteriormente, nos livros manuscritos, e instituem, consequentemente, os
direitos autorais, a criminalização da cópia e do plágio.
Em segundo lugar, são
as tecnologias de impressão e difusão da escrita que criam muitas e várias
instâncias de controle do texto – de sua escrita e de sua leitura: o texto é
produto não só do autor, mas também do editor, do diagramador, do programador
visual, do ilustrador, de todos aqueles que intervêm na produção, reprodução e difusão
de textos impressos em diferentes portadores (jornais, revistas, livros...). Altera-se,
assim, fundamentalmente, o estado ou condição dos que escrevem e dos que lêem –
o letramento na cultura do texto impresso diferencia-se substancialmente do
letramento na cultura do texto manuscrito.
Atualmente, a cultura
do texto eletrônico traz uma nova mudança no conceito de letramento. Em certos
aspectos essenciais, esta nova cultura do texto eletrônico traz de volta
características da cultura do texto manuscrito: como o texto manuscrito, e ao
contrário do texto impresso, também o texto eletrônico não é estável, não é
monumental e é pouco controlado. Não é estável porque, tal como os copistas e
os leitores frequentemente interferiam no texto, também os leitores de hipertextos
podem interferir neles, acrescentar, alterar, definir seus próprios caminhos de
leitura; não é monumental porque, como consequência de sua não-estabilidade, o
texto eletrônico é fugaz, impermanente e mutável; é pouco controlado porque é
grande a liberdade de produção de textos na tela e é quase totalmente ausente o
controle da qualidade e conveniência do que é produzido e difundido.
Enquanto no texto
impresso é grande a distância entre autor e leitor – segunto Bolter (1991, p.
3), o autor do texto impresso é a monumental figure (uma figura
monumental) e o leitor é apenas a visitor in the author’s cathedral (um
visitante na catedral do autor) – no texto eletrônico, a distância entre autor
e leitor se reduz, porque o leitor se torna, ele também, autor, tendo liberdade
para construir, ativa e independentemente, a estrutura e o sentido do texto. Na
verdade, o hipertexto é construído pelo leitor no ato mesmo da leitura: optando
entre várias alternativas propostas, é ele quem define o texto, sua estrutura e
seu sentido. Enquanto no texto impresso, cuja linearidade, por si só, já impõe
uma estrutura e uma seqüência, o autor procura controlar o leitor, lançando mão
de protocolos de leitura que definam os limites da interpretação e
impeçam a superinterpretação, como propõe Umberto Eco (1995, 2001), no
texto eletrônico, ao contrário, o autor será tanto mais competente quanto mais
alternativas de estruturação e seqüenciação do texto possibilite, quanto mais
opções de interpretação ofereça ao leitor.
Na verdade, o
hipertexto não tem propriamente um autor; em primeiro lugar, porque a intertextualidade,
presente, no texto impresso, quase exclusivamente por alusão, no hipertexto se
materializa, na medida em que este se constrói pela articulação de textos
diversos, de diferentes autorias – no hipertexto, não há uma autoria, mas uma
multi-autoria.
Assim, o texto
eletrônico exige uma reconceituação radical de autoria, de propriedade sobre a
obra, de direitos autorais (questões polêmicas que vêm sendo amplamente
discutidas, mas ainda não resolvidas), o que tem, sem dúvida, efeitos nas
práticas de leitura e de escrita.
Por outro lado, na
cultura da tela, altera-se radicalmente o controle da publicação: enquanto, na
cultura impressa, editores, conselhos editoriais decidem o que vai ser
impresso, determinam os critérios de qualidade, portanto, instituem autorias e
definem o que é oferecido a leitores, o computador possibilita a publicação e
distribuição na tela de textos que escapam à avaliação e ao controle de
qualidade: qualquer um pode colocar na rede, e para o mundo inteiro, o que
quiser; por exemplo, um artigo científico pode ser posto na rede sem o controle
dos conselhos editoriais, dos referees, e ficar disponível para qualquer
um ler e decidir individualmente sobre sua qualidade ou não. Pode-se concluir
que não é só este novo espaço de escrita que é a tela que gera um novo
letramento, para isso também contribuem os mecanismos de produção, reprodução e
difusão da escrita e da leitura.
Segundo Eco (1996),
os eventos de letramento que ocorrem com a intermediação da Internet exigem
novas práticas e novas habilidades de leitura e de escrita: “We need a new form
of critical competence, an as yet unknown art of selection and decimation of
information, in short, a new wisdow” (Precisamos de uma nova forma de
competência crítica, uma ainda desconhecida arte de seleção e eliminação de
informação, em síntese, uma nova sabedoria).
Letramentos, o plural
Recorde-se o título do primeiro tópico deste texto, Conceitos de letramento:
o plural foi posto na palavra conceitos, não na palavra letramento,
e o objetivo, naquele momento, foi discutir diferentes perspectivas na
caracterização do fenômeno, ali considerado como fenômeno singular,
referindo-se, implicitamente, a práticas de leitura e de escrita na cultura do
papel. A reflexão que a seguir se fez sobre a escrita na cultura da tela – na
cibercultura, o confronto entre tecnologias tipográficas e digitais de escrita
e seus diferenciados efeitos sobre o estado ou condição de quem as utiliza,
sugere que se pluralize a palavra letramento e se reconheça que
diferentes tecnologias de escrita criam diferentes letramentos. Na
verdade, essa necessidade de pluralização da palavra letramento e, portanto, do
fenômeno que ela designa já vem sendo reconhecida internacionalmente,9 para
designar diferentes efeitos cognitivos, culturais e sociais em função ora dos
contextos de interação com a palavra escrita, ora em função de variadas e
múltiplas formas de interação com o mundo – não só a palavra escrita, mas
também a comunicação visual, auditiva, espacial.
Dados os limites e
objetivos deste texto, esses muitos letramentos não são aqui discutidos;
propõe-se o uso do plural letramentos para enfatizar a ideia de que
diferentes tecnologias de escrita geram diferentes estados ou condições
naqueles que fazem uso dessas tecnologias, em suas práticas de leitura e de
escrita: diferentes espaços de escrita e diferentes mecanismos de
produção, reprodução e difusão da escrita resultam em diferentes letramentos.
Voltando ao primeiro
parágrafo deste texto, o que aqui se pretendeu foi perseguir uma mais ampla
compreensão de letramento, buscando, para além do sentido com que essa palavra
e fenômeno vêm
sendo usados,
limitadamente com referência apenas a práticas de leitura e de escrita no
contexto de uma cultura do papel, um novo sentido, consequência do surgimento,
ao lado da cultura do papel, de uma cibercultura. A conclusão é que letramento
é fenômeno plural, historicamente e contemporaneamente: diferentes letramentos
ao longo do tempo, diferentes letramentos no nosso tempo.
Recebido e aprovado
em novembro de 2002.
Notas
1. Segundo Lévy (1999,
p. 17), cibercultura designa “o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais),
de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se
desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço”. Segundo o mesmo
autor, ciberespaço é “o novo meio de comunicação que surge da
interconexão mundial dos computadores”. 2. Na verdade, a dificuldade de
formular um conceito preciso de letramento parece ser inerente ao próprio
fenômeno; a esse propósito, ver Soares (1998a).
3. Obviamente, está
subjacente a esse conceito de letramento o pressuposto de que a aprendizagem e
o exercício de práticas de leitura e escrita têm efeitos sociais, cognitivos, discursivos
sobre indivíduos e grupos, o que, reconhece-se, é uma questão polêmica, não
discutida neste texto, por ultrapassar seus limites e objetivos. Apenas convém
lembrar que a principal objeção a esse pressuposto se fundamenta na tese de que
é a escolarização, e não a aquisição da escrita e de suas práticas sociais, que
tem efeitos cognitivos, sociais, discursivos sobre indivíduos e grupos sociais
(cf. Scribner & Cole, 1981); essa objeção, porém, não invalida o
pressuposto: se a escolarização tem efeitos Educ. Soc., Campinas, vol.
23, n. 81, p. 143-160, dez. 2002 157 Disponível em http://www.cedes.unicamp.br sociais,
cognitivos, discursivos sobre os indivíduos e grupos sociais, conseqüentemente as
práticas de leitura e escrita também têm, ou mesmo sobretudo têm, já que
o componente mais forte da escolarização são, sem dúvida, as práticas de
leitura e de escrita.
4. O adjetivo tipográfico,
neste texto, usado para qualificar leitura, escrita ou letramento, não se refere apenas, restritamente, a textos
impressos com tipos, mas a textos impressos de modo geral, seja qual for o
processo de composição – não só tipográfico, mas também por fotocomposição, por
editoração eletrônica etc. Atualmente, é com esse sentido amplo que esse
adjetivo tem sido usado.
5. Para Ong (1982, p.
6), oralidade primária é “the orality of cultures untouched by literacy”;
para Lévy (1993, p. 77): “A oralidade primária remete ao papel da
palavra antes que uma sociedade tenha adotado a escrita, a oralidade secundária
está relacionada a um estatuto da palavra que é complementar ao da escrita,
tal como o conhecemos hoje. Na oralidade primária, a palavra tem como função
básica a gestão da memória social, e não apenas a livre expressão das pessoas
ou a comunicação prática cotidiana. Hoje em dia, a palavra viva, as palavras
que ‘se perdem no vento’, destaca-se sobre o fundo de um imenso corpus de textos:
‘os escritos que permanecem’. O mundo da oralidade primária, por outro lado, situa-se
antes de qualquer distinção escrito/falado.”
6. Vários autores têm
discutido as características e implicações da interação on-line; já em
1985, Meyrowitz propõe uma análise sociológica da questão: MEYROWITZ, J. No sense
of place: the impact of electronic media on social behavior. Oxford: Oxford
University Press, 1985; coletânea organizada por David Porter, apresenta textos
sobre comunidades virtuais: PORTER, D. (Ed.). Internet culture. New York and London: Routledge,
1996; Patrick Rebollar apresenta e analisa uma nova convivência intelectual mundializada,
na área da literatura, trazendo de volta os “salões literários”, como indica o
título de seu livro: REBOLLAR, P. Les salons littéraires sont dans
l’internet. Paris: PUF, 2002; duas obras recentes analisam a interação on-line
sob a perspectiva da linguagem: CRYSTAL, D. Language and the Internet.
Cambridge: Cambridge University Press, 2001; DEJOND,
A. La cyberl@ngue française. Tournal, Belgique: La Renaissance du Livre,
2002.
7. É preciso lembrar,
porém, autores que, já antes do texto na tela, lançaram mão, no texto no papel,
de estratégias do hipertexto; pode-se citar, como exemplos: O jogo da
amarelinha, de Cortázar, O jardim de veredas que se bifurcam, de
Borges, Se numa noite de inverno um viajante, de Calvino.
8. “O livro impresso
[...] parece estar destinado a afastar-se para a margem de nossa cultura letrada.
[...] a idéia e o ideal do livro será alterado: o impresso não mais definirá a organização
e a apresentação do conhecimento, como aconteceu nos últimos cinco séculos. Essa
mudança da imprensa para o computador não significa o fim do letramento. O que
será perdido não é propriamente o letramento, mas o letramento da imprensa, porque
a tecnologia eletrônica oferece-nos um novo tipo de livro e novas maneiras de escrever
e de ler. A mudança para o computador tornará a escrita mais flexível, mas também
alterará as definições de escrita de boa qualidade e de leitura cuidadosa que foram
geradas pela técnica da impressão. [...] O computador está reestruturando nossa
atual economia de escrita. Está mudando o status cultural da escrita e também o
método de produção de livros. Está mudando a relação do autor com o texto e de
ambos, autor e texto, com o leitor”.
9. Por exemplo, em
língua inglesa, são numerosas obras recentes que trazem, em seu próprio título,
a palavra no plural, como: GEE, J.P. Social linguistics and literacies. London: Taylor & Francis, 1996; BARTON, D.; HAMILTON, M. Local
literacies. London: Routledge, 1998; LANKSHEAR, C. Changing literacies.
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Campinas, vol. 23, n. 81, p. 143-160, dez. 2002 Disponível em http://www.cedes.unicamp.br COPE, B.; KALANTZIS,
M. (Eds.). Multiliteracies. London: Routledge, 2000. Entre nós, foi
recentemente publicado livro que propõe o conceito de letramentos múltiplos: CAVALCANTE
JR., F.S. Por uma escola do sujeito: o método (con)texto de letramentos
múltiplos. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2001.
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